quarta-feira, agosto 21, 2013

A morte do que era (nós)




Quando nos deixamos – eu quero dizer que fomos nós, mas talvez primeiro tenha sido você, eu é que não tinha percebido ainda – alguma coisa em mim morreu – não sei se foi só você, ou se tudo que eu tinha construído a respeito do amor durante meus longos 20 anos. Dizem que quando você está a beira da morte, a sua vida inteira passa diante dos seus olhos, foi o que aconteceu naqueles dias que antecederam ao derradeiro fim de Nós – quando digo Nós, quero dizer da conjugação: eu & você. Eu enfim estava conseguindo ver tudo com uma clareza tão profunda que nunca tinha me permitido ver antes. Nós não tínhamos construído laços ao longo dos 6 anos entre idas e vindas que passamos juntos – namorando, sendo amigos, em pensamento – construímos nós, que pareciam a primeira vista, difíceis de serem desfeitos. Mas tudo se desfaz afinal. Em algum momento tudo se desprende. E eu enfim, me desprendi de você – nos desprendemos. Antes de conversamos cara a cara, e essa história ter enfim o seu ponto correto – o ponto final – eu passei quase uma semana me arrastando do quarto pra sala, da sala para o quarto, sem notícias suas, me jogava na cama, sem você, e agarrava o travesseiro que você deixou e que ainda guardava o seu cheiro, e então chorava e gemia abraçada ao travesseiro como se fosse o seu corpo, e chorava e chorava e chorava até dormir sonos repletos de pesadelos, talvez avisos, talvez vislumbres, talvez recordações. A falta de apetite me acompanhou durante quase 15 dias – é, hoje eu também acho que foi um luto gigante, mas talvez necessário – emagreci oito quilos. Antes de você (o nós) morrer, tomava sustos a cada vez que o telefone tocava, mas nunca era você – como eu disse logo no ínicio deste texto, você me matou primeiro – e eu ficava esperando que o telefone tocasse e alguém dissesse que era você do outro lado da linha. Meu coração palpitava a cada batida na porta – eu não me levantei nenhuma vez da cama para saber quem era – esperava que fosse você, e que você viria pra me dizer, aquela frase de sempre: eu não vou desistir de você. Isso não aconteceu.

O que começou a acontecer, no meio daquela falta de apetite – porque eu não conseguia engolir quase nada naqueles dias – solidão, vontade de morrer junto com aquele sentimento todo, e lagrimas, foi mesmo a percepção, o conhecimento, a revelação – a epifania – o fim. Aquele tal filme que passa na nossa cabeça do qual falei anteriormente, começou a passar, em câmera-super-lenta. Por meio daquele momento de chegada da consciência há tempos perdida, que eu me vi outra pessoa. Foi ali, deitada na cama, na véspera do domingo de páscoa que matei você – sem chance alguma de ressurreição.

Levantei no domingo de páscoa e comi, comi como se nunca tivesse comido antes – não porque comi muito, mas saboreei aquilo como se fosse a minha primeira comida em anos. Arrumei a casa, mudei os móveis de lugar, assim como tinha mudado as minhas certezas sobre aquele “bendito” sentimento entre “nós”. Naquela mesma tarde de domingo, estava eu feliz e satisfeita, assistindo um filminho de comédia, quando ouvi batidas na porta, fui abrir – não tremi, não me arrepiei, o coração não quis pular pela boca – era ele. De cabeça baixa, fez menção de entrar em casa, não deixei. Disse oi – segurando a porta. Ele disse: - não vai me deixar entrar? – Não! – Por que? Precisamos conversar! – Não acredito que tenhamos mais nada pra falar. Quer dizer, apenas uma única coisa: ADEUS! – é assim? – Sim! – Ok, então! De cabeça baixa, ele se foi, desta vez pra sempre.

Depois que nos deixamos, poucos meses depois, veio o ciclo das novas pessoas – não tão novas, a bem da verdade – das novas saideiras, de algumas novas conversas, de algumas novas atrações. Não posso dizer que me apaixonei por ninguém depois disso, não aconteceu – talvez nem aconteça. Mas eu fui ficando tão feliz, alto astral e livre. Esqueci-me dos tempos em que ainda estávamos juntos e me permiti tantas coisas. E nesse momento vieram os fins de semana em Porto Seguro – regado a bebedeira, vomitos, atração física e nenhuma ligação pra ele. Itacaré – que lugar maravilhoso! Ilhéus – aonde eu sempre ia com ele, mas nunca me divertia. E de repente vieram festas e boates e saídas – e erres, e jotas, e eles, e agás – e pessoas e mais pessoas. É verdade ninguém me preenche ou me completa – mas você também não fazia isso. O “Efe”, tão solícito na maneira como colocava pedras de gelo na minha vodka ou cuidava de mim quando eu queria beber. O letra “Ele” encostando levemente sua boca na minha e me puxando pra perto de si. O “Jota” me contando mentiras ao pé do ouvido. O “Agá” me passando sms a todo o momento. E então se passaram meses depois do fim, e eu sobrevivi – e eu que pensava que não. E o mundo foi se tornando ao poucos um admirável local onde eu gosto de morar e que me abre imensas possibilidades todos os dias. E o que dizer de você? Ah, deixa pra lá, esqueci.

 

1 comentários:

Glauber disse...

Perdi o fôlego rs. Superação é sempre uma coisa linda de se ler ^^

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