quarta-feira, dezembro 08, 2010

Os atores.



Eles se conhecem, são ótimos atores. E agora a vida proporcionou o encontro dos dois. Eles atuarão na mesma obra. Uma peça. Uma peça de amor. Uma peça muito bonita. Que vai pedir toda a dedicação dos dois. E eles são dedicados. Muito dedicados. Ensaiam por horas e horas para não fazer feio perante a platéia. Mesmo que não haja platéia, eles estão sempre encarnando os papéis que lhe cabem. Eles são atores, então é difícil saber quando começa e quando acaba a encenação. Eles são muito bons. A peça ainda nem começou, mas eles já estão nos seus respectivos lugares. Os de protagonistas. Não há atores coadjuvantes. Poucas vezes aparece algum elenco de apoio. Nada muito importante. 
Antes de começar a peça, eles trocam algumas palavras. Eles já se conhecem de outros carnavais. Quase nem se falam, há muita mágoa entre eles, mas como são profissionais, e pegaram o papel, vão ter que atuar. Mesmo que seja difícil para ambos, até mesmo se olhar. Poucas horas antes da peça começar eles decidem ensaiar. A história é tão bonita. Diferente daquela que eles tiveram um dia. Por esse motivo, eles começam a se lembrar, do que passaram na vida real, e começam a conversar. A cortina se abre e eles nem percebem, continuam a conversar, como se ninguém os observasse. Ele finge que ainda ama ela. Que finge que já não ama ele. Ele finge que não quer magoá-la outra vez e ela finge que quer que ele sofra. Ele finge que se importa com ela, e ela finge que não está nem aí pra ele. Eles são ótimos atores. Encenam um briga agora. E a platéia fica perplexa. Quanta verdade. Quanta mentira. A platéia vibra. Na discussão, ela diz que não acredita nele. Ele diz que se ela não acredita nele, tudo o que ele faz parece ser em vão. Ela finge que não se importa. Ele diz que não vai mais importuná-la. Ela finge que não sente o golpe. E a platéia fica louca, imaginando onde aquilo vai parar. Será que ele a ama. E mesmo assim vai deixá-la? Os outros pensam que se ele deixá-la agora, então a farsa vai acabar. E a peça não vai continuar. Todos ficam eufóricos para saber no que vai dar. Ele dá um passo, como se estivesse indo embora. Ela não se move. Ela não se importa. Ele volta. Ela sorri por dentro, mas o ignora. Ele diz que mesmo que ela queira ele longe. Ele não vai deixá-la. Ela sorri com desdém. Diz que não sentirá falta. Ele diz que sabe disso, e que embora ela acredite que é tudo uma mentira, ele vai prová-la que desta vez, apenas desta vez, tudo que ele diz, é verdadeiro. Ela diz que ele não precisa lhe provar nada. Que a platéia que o aplauda, pois ela não acredita nesse show. Ele vai embora fingindo estar magoado. Ela vai embora fingindo que venceu. E nessa hora, eles percebem que a vida deles, foi vista por muitas pessoas, como se fosse apenas uma peça teatral. Os dois se entreolham. E as cortinas se fecham.
E a platéia sai pensando em como a peça foi maravilhosa, e como os atores se doaram àqueles papéis. Tudo foi tão perfeito que algumas pessoas saem do teatro imaginando se aquilo tudo encenado não aconteceu realmente com o autor da peça, ou com alguém conhecido. Afinal, todo mundo percebeu, a verdade, a paixão, a raiva que os dois sentiam um pelo outro em cada ato. Tudo era tão verdadeiro, que nem parecia uma peça inventada. E realmente não foi, mas eles não sabem.
E no final, os dois atores vão embora, sem terem feito seus papéis na peça teatral. Mas com a certeza de que são bons fingidores. Afinal, encenaram uma coisa tão real.


1 comentários:

Bia Reis disse...

Peeeeeeerfeito Prima ! ♥

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